5 de fevereiro de 2011

Sorte de calouro

(texto publicado na Revista Offline # 22)


Segundo dia de aula na faculdade – evitei ir no primeiro para escapar do trote. Jornalismo. Havia trancado Comércio Exterior quando o professor de Administração disse que teríamos que ler Quem Mexeu no Meu Queijo para realizar uma prova – a vida tinha que ser mais do que ler livros de auto-ajuda pra se chegar a algum lugar.

Eu era bem mais velha que noventa por cento dos meus colegas de classe e estava pensando como seriam as aulas naquele novo curso quando alguns alunos do segundo ano entraram na nossa sala e nos convidaram para o trote – ir pedir dinheiro no farol e depois ir beber em um barzinho próximo à faculdade.

Relutei pensando que já não tinha idade para fazer aquilo, mas ao mesmo tempo não queria ser anti-social. Testa pintada com guache, eu e alguns poucos corajosos nos dirigimos ao farol mais próximo e começamos a mendigar pelo álcool nosso daquela terça-feira.

                                                                       Ricardo Shimizu/Agência BOM DIA

Não sou a pessoa mais extrovertida do mundo, por isso demorou um pouco até eu conseguir pedir por um real, um centavo ou uma bala com mais desenvoltura. E quando a desenvoltura chegou minha sorte veio junto. Um rapaz muito caridoso abriu a carteira e disse: “só tenho isso”, me entregando uma nota de vinte reais. A “bichete de ouro”, foi como fiquei conhecida naquela noite – e depois o apelido foi esquecido para sempre.

Minha sorte, no entanto não acabava ali. Implorei por dinheiro a um rapaz que não quis me dar nem ao menos míseros dez centavos. “E o seu telefone, rola?” – perguntei quase que espontaneamente. Recebi seu cartão de visitas e na semana seguinte ganhei um dos melhores beijos que já provei na vida.

Entre indas e vindas o nosso caso nunca se tornou sério e não durou mais que um curso tecnólogo, mas valeu a pena. Em dezembro me formo e fico feliz por isso, mas talvez estivesse mais feliz se além do diploma pudesse segurar a mão dele no dia da minha formatura.


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