10 de abril de 2014

Viva la Emoción!

(Artigo opinativo publicado em Dezembro de 2013 no Jornal Diário da Região)

Numa época em que a preocupação em fazer o bem ascende, marketing e publicidade pegam carona na onda sentimentalista para conquistar consumidores e impulsionar vendas. Aos poucos as propagandas criativas e bem-humoradas perdem espaço para aquelas que apelam para o poder emocional: cativar para vender e sensibilizar para aumentar a visibilidade da marca é estratégia crescente. Mostrar os verdadeiros atributos de um produto ficou em segundo plano.

Cenas reais de gestos de bondade, como a de um bombeiro dando oxigênio a um filhote de gato resgatado de um incêndio, têm sido utilizadas com frequência em comerciais na TV. A filmagem em questão foi aproveitada pela fabricante da câmera e já tem mais de 19 milhões de visualizações no YouTube. O gato, que sofreu sérios danos nos pulmões devido à fumaça, não resistiu e morreu horas mais tarde – mas o consumidor não precisa saber disso. Num outro comercial o narrador nos aconselha a aproveitarmos mais a vida e a não nos importarmos tanto com o dinheiro – a campanha é de uma instituição bancária. Uma fabricante de refrigerantes incentiva a prática de esportes; uma empresa de cosméticos para que pele e cabelo fiquem mais bonitos nos diz que a beleza vem de dentro. Cativante e um tanto quanto dicotômica, é dessa forma que funciona a publicidade emotiva – uma das mais rentáveis do ramo.

Uma análise superficial e ingênua poderia nos levar a acreditar que surge no meio publicitário uma revolução silenciosa contra o consumismo, que o “ser” volta a predominar sobre o “ter”. Ilusão. Estimulado pelo economista americano Victor Lebow, o consumismo exacerbado prevalece, disfarçado agora sob máscaras de ternura, vida saudável e sustentabilidade. Em seu artigo, publicado em 1955, Lebow dizia: “Nossa economia altamente produtiva exige que façamos do consumo nosso meio de vida, que convertamos a compra e o uso desses bens em rituais, que busquemos nossa satisfação espiritual e a satisfação do nosso ego no consumo”. Conselho seguido até nos darmos conta de que não precisamos, como afirmou Lebow, “ter coisas consumidas, queimadas, substituídas e descartadas de modo e modo mais acelerado”. Temos consciência de que não precisamos expressar nossa individualidade através das roupas que vestimos ou dos sapatos que usamos. Não precisamos, mas queremos. Tentamos – nem tanto assim – abandonar o vício de comprar, mas ele está impregnado, pois, de acordo com a observação de Lebow, “uma campanha publicitária específica e promocional, para um determinado produto, num determinado momento, não tem garantia automática de sucesso, no entanto, pode contribuir para uma pressão geral na qual desejos são estimulados e mantidos”.

Não reclamamos do capitalismo porque somos esquerdistas ou comunistas, reclamamos do capitalismo porque o carro do vizinho é melhor que o nosso. Quantos “discípulos” de Che e Fidel deixariam seus confortáveis lares para viver num país onde a comida é racionada e o acesso à internet é controlado? Por mais verdadeiras que sejam nossas intenções de não nos capitularmos às tentações materialistas, a tarefa é árdua e não acontecerá de forma tão acelerada quanto o processo incentivado por Lebow.  E ainda que as novas campanhas publicitárias estimulem boas ações, o principal objetivo é um só: vender.

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